22 de janeiro de 2012

22 de Janeiro




Josey sabe que eu detesto festas. Por que eu estou mesmo aqui?

22 de Janeiro, churrasco, céu nublado e calor infernal. Conhecidos, desconhecidos e os famosos “já ouvi falar”. Será que alguém por aqui já ouviu falar de mim? Quem poderia imaginar que em instantes eu teria minha resposta. Bingo!

Não sou muito de festas. Na verdade, trocaria todo aquele som indie e alto por passeios do lado de fora da festa. Além de estar incomodada com os respingos de vodka de alguns conhecidos no meu cabelo, eu estava exausta. Não precisava bancar a blasé para todos entenderem que ali não era o meu lugar.

Finalmente a chuva. Algo de que eu realmente me orgulhe presenciar.

Josey me chamava para dançar com os amigos sempre que me via encarar a porta da saída. Nada contra os musculosos e espontâneos, no momento, banhados pela chuva e esbanjando sex appeal fingido, mas eu era como dizem o “problema”. Insisto em me perguntar: o que eu faço aqui, mesmo?

Enquanto observava Jo e Anne rasgar de maneira absurda a blusa de um tal de Jared, empurrava refrigerante para tentar disfarçar o meu espanto nada transparente. Todos eles se divertindo e tudo em que conseguia pensar era no último capítulo do livro que eu deveria ter terminado.

Quando finalmente resolvi me levantar, o tal Jared – de novo ele – resolveu parar com seu copo meio cheio, meio vazio em frente a porta da saída. Ótimo! Tudo o que eu queria era um metido a gostosão meio bêbado, meio sóbrio atrapalhando a minha fuga.

- Onde pensa que vai? A festa é aqui dentro!

- Pegar um ar – péssima atriz.

- Por que você não vem comigo? Bebe um pouco que, daqui à pouco, a bonequinha vai estar ali se divertindo. Custa nada não!

- Não bebo – franzi o cenho ao mesmo tempo que ironizava o “bonequinha”.

- Olha, só bonequinha careta... ouve o que eu estou dizendo e vem comigo – disse ele, inclinando a cabeça em minha direção. Maldito seja esse bafo!

Salva pelo gongo e por ele, em tempo. Mas, esperem: quem era ele?

- Jared... tem gente ligando para sua bonequinha. Acho que é da casa da avó dela e precisa liberar a moça agora. Tem como?

- Beleza, beleza... volta pra mim depois! – disse isso enquanto beijava um dos músculos.

- Claro, mon amour! – eca, eca, eca e eca!

Segui o desconhecido até o outro lado da rua. Nada prudente, eu sei, mas era melhor do que “papear” com o bêbado gostosão. Ele era bem mais alto que eu e estava fazendo com que eu me sentisse protegida, por mais que não fosse um monstro musculoso.

Ele interrompeu meu silêncio.

- De nada – sorriso irônico detectado.

- Desculpa, mas é que eu não falo muito. Mas nem por isso quer dizer que eu seja ingrata, então, muito obrigada.

Ele me encarou. Eu parei.

- Como eu disse, de nada. Antes que você tenha medo, meu nome é Fred. Não sou nenhum psicopata alcoólatra. Estudo na mesma universidade que Josey, mas não me lembro de você. Estuda com ela?

- Na verdade não. Estudei com ela quando éramos mais novas e, como ela é insistente, acabei vindo parar nesse churrasco que tem tudo a ver comigo – ele notou meu tom irônico. Ótimo.

- Josey é legal. Mas, então... não vai me dizer seu nome “bonequinha”? – ele riu sozinho enquanto arregalei meus olhos tentando achar graça do acontecido.

- Todo mundo me chama de Mel.

- Sinto te desapontar, mas não sou o “todo mundo” que você pensa – ele abaixou a cabeça e riu.

Quando me dei conta, estávamos em um antigo parque perto da festa conversando sobre nossas vidas. Ele não era mais um estranho e eu não era mais motivo de piada por ser a suposta “bonequinha”. Eu já era Mel, dezoito anos, cursando teatro, porém incapaz de enganar à mim mesma. O que me servia de consolo? Segundo ele, ele também não conseguia se enganar.

22 de Janeiro, chuva forte, vestido verde musgo molhado, sapatilhas ensopadas e Fred. Ele se mostrou um ótimo novo amigo. Pelo menos, até o momento em que, pela primeira vez, segurou em minha mão.

8 comentários:

Unknown disse...

Adorei o texto! Você sempre me faz viajar em seus contos com esses mocinhos fofos que está nos sonhos de 10 entre 10 garotas. Parabéns

Larissa Mauler disse...

SÉÉÉÉÉÉÉRIO, muuuuuito perfeito!!! Adorei mesmo. Gostei muuuito hahaha

Junior Beéfierri disse...

A protagonista é inspirada na escritora ?
Gostei do 'cursando teatro'...
belo texto ;)

Gabriele Babele disse...

Woooom, que lindo! Não lia nada assim há séculos *-*

Pâmella disse...

Own, sério amei . É um daqueles encontros inesperados dos livros onde muda a vida toda do personagem.. Ficou com gostinho de quero mais :)

Pietra Alcântara disse...

Nossa, vc escreve super bem... Parabéns! Gostei muito do seu blog, faz um tempo que eu o conheci, pelo Depois dos Quinze, estou gostando cada vez mais dos seus textos. Pena que eu não consigo escrever textos desse tema, sabe? Tipo textos românicos... Tenho que aprender mais com você hehe...

www.picturesandreams.blogspot.com

Liz Bessa. disse...

Adorei fechar uma parceria com o seu blog!

www.garotasperfeitasone.blogspot.com

Marcelle Braga disse...

A-M-E-I! Simplesmente, amei! Eu adoro essas histórias, quase saio de mim e viajo nesse mundo de fantasia. É apaixonante! Parabéns, lindi. Beijos

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