7 de junho de 2013

Três da manhã


Acordei. Não abri os olhos por completo. Tive um pesadelo. Na verdade, vários desde não me lembro quando. Ainda meio tonta, procurei em desespero. Achei. Meu celular descansava perto de mim. Nem minha mãe se preocupava mais com meus horários. Ela passou toda essa responsabilidade para um aparelho preto e cinza, dividido em tantas mil prestações.

Valeu, Claro. Você me deixou seis novas mensagens.

Olhei para minha irmã e ela ainda mais babava que dormia. E se eu colocasse a culpa nela por eu ter tantos pesadelos aleatórios? Ela fala tanto dormindo quanto fala acordada e talvez isso esclareça minhas péssimas noites de sono, que eu não tive.

Três horas da manhã. Rapidamente fiz as contas e eu tenho exatamente umas três horas de sono, com direito a dez minutos de cochilo preguiçoso. Mas eu não ia conseguir mais dormir. Coloquei as duas pernas de uma vez para fora da cama, sem fazer barulho. Encachei meus pés com meias trocadas no par de chinelos laranja, abri a porta e fui direto para varanda.

Quando abri a porta da sala, senti aquele vento frio que faria minha mãe dizer "vai ficar resfriada". Teimosa, me enrolei mais ainda em meu casaco e me acomodei no sofá branco com laterais de madeira que meus pais haviam ganho em uma promoção. Não era aconchegante como a minha cama, implorando pela minha presença, mas algo não me deixava dormir.

Sem querer, esbarrei no celular e lá estava. João. Escrito com todas as letras, em minha agenda telefônica. Maldita tecnologia! Pensei que havia perdido seu número, quando te perdi. João... queria poder culpá-lo por não conseguir dormir, por roer as unhas ou por comer chocolate quando estou nervosa, mas as coisas mudaram em dois anos.

Eu mudei, você também. Nós mudamos... e mesmo assim, quando nos encontramos, sabemos que tem alguma coisa ali, no ar e no olhar que nos deixa nervosos, travados. Que dá vontade mesmo é de dizer "nada mudou, não é mesmo?" e correr pro abraço. Literalmente.

Talvez isso seja coisa da minha cabeça, então, vou apagar seu número. Vai que acontece o mesmo com você. Não quero ouvir mais explicações sobre o destino e o tempo e como eles mudam a vida das pessoas de uma hora para outra. Ninguém faz ou fez nada, além de nós. 

Deletar. Espera! Merda! Não é discar!

– Alô? Ana?

– João, me desculpa.

– Espera. Aconteceu algo?

– Nada.

– Nada? Tem certeza?

– Tenho. Nada mudou aqui.

Esse texto foi todo escrito ouvindo o álbum Red, da cantora Taylor Swift.

Um comentário:

Nanda Torres disse...

A foto é linda, e o texto encantador!
Obrigada pela visita fofa flor!
Volte sempre!

beijos

http://lladodedentro.blogspot.com.br/

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