24 de fevereiro de 2013

Trinta (part. 2)



O medo de checar qual era a postura dele no momento era bem maior que minha vontade de correr para o banheiro mais próximo e devolver aquelas doses desesperadas de álcool. Eu permaneço imóvel, assim como ele. Dá pra ver pelo canto dos olhos que ele faz o mesmo. Sua boca permanece fechada, em linha reta. Traços firmes. 

Mais uma dose e estarei preparada para ser simpática.

- Se eu fosse você, teria cuidado - ele foi mais rápido que a dose, minha simpatia e até aquele figurão que estava me encarando desde o começo da festa. Tudo bem que agora, ele não diria nem um simples "oi" devido a presença do Chris aqui do meu lado, mas ele perdeu tempo e me perdeu.

- Com você? - eu disse isso mesmo? Alô, é do sanatório mais próximo? 

- Não - ele soltou um sorriso daqueles que a gente só vê em comerciais de creme dental. Este mesmo sorriso terminou torto e de bônus, uma de suas sobrancelhas se levantou - com aquele cara ali na frente te fuzilando com o olhar. O indivíduo me parece bem determinado.

- Determinado? - alerta de álcool provocando sinceridade em três, dois... - só pode ser brincadeira! Esperava uma crítica muito mais elaborada de você, Sr. Observador - mais um gole, mais um vexame.

- Todo mundo comete erros - ele apagou o cigarro no cinzeiro vazio no meio da mesa. E até aí, achava que os caras só conseguiam ser charmosos em qualquer atitude em filmes ou séries.

- Você é gay?

- Por que está tão certa disso?

- Porque se você não for, ele é. Esse homossexual fica me "fuzilando" - fiz caretas, mímicas e mais vexame à caminho - com os olhos e não faz merda nenhuma! Não se fazem mais homens como antigamente. Não quero que ele me pegue pelo braço e me chame de Pedrita, mas se ele for educado...

- Tem certeza de que você quer esperar educação de um cara a essa hora da noite, com três garrafas de Absolut e quem dirá, um barril de cerveja barata na mente? - ele riu dele mesmo.

- Então, você é gay - segurei o copo e com um dos dedos da mesma mão, apontei pra ele. Decepcionante.

- Não faz muito o meu estilo.

Claro que não fazia. E se fizesse, eu seria capaz de trocar meu nome para Marco e marcaria a cirurgia para a data mais próxima.

Continua...

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