Mostrando postagens com marcador paixão. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador paixão. Mostrar todas as postagens

6 de outubro de 2013

Paixão do 315

Zenit 122 - TrolleyBus Valpo

Fiz sinal, um pouco tímida. Entrei, mas bem desajeitada. Quem foi que disse que eu consigo sair de casa sem uma bolsa ou outra? Ou duas? Estavam ambas pra lá de pesadas demais para eu me concentrar em conferir o troco. Peguei a mistura confusa de notas e moedas, enfiei em um pequeno bolso da bolsa tamanho "monstro" e sentei de qualquer jeito no primeiro lugar vago que apareceu em minha frente.

Não hesitei em escolher sentar na poltrona perto da janela. Alguns e principalmente meu pai, dizem que não é apropriado, porque se acontecer algo, não estarei encurralada e poderei sair do lugar sem ser impedida, mas eu me odiaria por ter que perder as paisagens divertidas e pessoas diferentes, acompanhadas de uma boa trilha sonora.

Pego celular e play. Agora, sou a autora e a protagonista. Hora de escolher os personagens.

Depois de notar as novas construções da cidade, ouvi um espirro um tanto engraçado. Segurei o riso e olhei para o lado. Cabelo preto bagunçado, pele pálida e óculos redondos com a armação bem fininha. Estiquei o pescoço e pude ver suas roupas todas dobradas dentro de uma bolsa, ao lado de uma mochila cinza de uma marca de esportes que eu nunca prestei muita atenção. Estava tão concentrado lá fora, mas tinha sono. Bocejava de cinco em cinco segundos. Contei todos eles, e contei as sardinhas também.

Quando me dei conta, já estava na poltrona do corredor. Disfarcei, mas ele olhou quando eu nem olhei. Mas percebi. Ele também. Ninguém se entregou. Dei mais uma espiadinha e eu já estava tão perto, mesmo tão longe, que senti cheiro de hortelã. De repente, deu um sorriso enorme. Logo pensei, "puta, mano... tem namorada", mas quando voltei a olhar, ele estava tirando um livro do Kafka da mochila. O título era A Metamorfose.

Um senhor sentou ao meu lado. E ele percebeu o que eu tinha percebido. Não é um julgamento, mas as pessoas da cidadezinha onde moro são todas iguais e ele cheirava a cidade grande e bem, bem longe dali. O que será que ele faz por aqui? Se faz, faz bem escondido, porque nunca tropecei perto dele. E olha que eu já tropecei muito. Muito mesmo.

Entre uma folha e outra, ele cochilava. Eu ria, mas bem baixinho. O senhor ao meu lado, com cara de Antônio, deu um sorriso, riu, mas não emitiu nenhum comentário. Me senti com oito anos de idade e descobrindo o mundo magnífico das pessoas que se pode encontrar e (ou) conhecer em um ônibus.

Uma curva, mais uma curva, uma árvore, um bocejo, uma folha e outra folha. Um bocejo e um cochilo. Uma risada, e o senhor com cara de Antônio desceu. Meu lugar ficou vago e o dele também, ao mesmo tempo.

Será que o coração também estava?

Antes que a discografia do The Killers começasse a tocar, cheguei ao meu destino. Não ao lado dele, nem ao lado de ninguém. Ainda. Mas cheguei em casa, e só por enquanto. Porque a vida é assim: a gente vive mudando de lugar, esperando encontrar um lugar vago e um alguém disposto a ouvir uma história. A nossa história.

Apertei o botão, puxei a cordinha e já vi o motorista acenando com um sorriso de "já vi você tantas vezes nesse ônibus que sei onde você desce". Antes de descer, fiz beicinho e segurei todas as malas da maneira mais pateta possível. Tentei me segurar, foi em vão. As bolsas estavam caindo e antes que meu corpo encontrasse o chão, senti um, na verdade, dois braços me segurando.

Fechei os olhos, apertei bem. Senti o ônibus parar, as pessoas começarem a me rodear e um aroma de hortelã bem familiar.

Lembra sobre aquele papo de encontrar alguém disposto a ouvir uma história? Bem, lá vai mais uma...

25 de dezembro de 2011

Sonho sabor licor




Você trabalha e gosta dos seus cigarros. Sua pele flui aroma de licor, certamente o meu favorito. Sorri com o canto da boca e me derrama em lágrimas com seus olhos tremendamente escuros. Posso mergulhar nestes mesmos até mesmo por fotos. E, antes que eu esqueça, quem me dera se eu fosse tão sua quanto eu sonho com o dia que você vai entrar pela porta da frente, me surpreender na cozinha, me abraçar e me deixar com aquele cheiro de licor, que eu amo.

Você me toma para dançar, como sempre de surpresa. Depois, corre e ri fazendo serenatas pela casa só para ver como o vestido que me deu rodopia acompanhado das notas. Cada nota, um beijo gentil por existir. Que a música nunca acabasse, então.

Todas as manhãs são divinas: eu trançando meu cabelo e pedindo que você não faça a barba. Você gosta de fazer surpresas, não é? Mais uma vez, me surpreende e me levanta com um “eu te amo” e “você e seu jeito que me faz chegar atrasado”. Eu insisto que você corra, mas você insiste em café, em rir com o canto da boca e olhos, em mim...

No sofá florido, você faz aquelas caretas lindas. Eu não faço muito esforço – admito minha falta de beleza – mas você diz que eu sou cega e que talvez tenha exagerado nas doses noite passada. Gosto do seu jeito de contrariar.

Por fim, você põe seus óculos escuros e para na porta com um “mal posso esperar para encontrar você aqui” e eu solto sem pensar “eu mal posso esperar para que você me encontre... aqui”. Ele sorri, beija minha testa enquanto passa a mão em minhas únicas mechas de cabelo soltas e sai. Espero que ele volte. E logo.

Quando me aproximo da varanda, posso vê-lo feliz. Quando acordo, minha mãe me chama para escovar os dentes, tomar café e arrumar a casa.

Súbitamente desejo que a realidade não seja tão amarga quanto o café do meu pai, que o dia não seja stress em gotas e que você me encontre exatamente aqui, em nossa realidade de aroma licor.

Copyright © 2015 | Design e Código: Sanyt Design | Tema: Viagem - Blogger | Uso pessoal • voltar ao topo